Sobre os novos exames…

5 fev

O gastro especialista analisou todo o meu histórico anterior. Acreditem: há chances de eu continuar no vácuo sem saber que doença tenho. As características que apareceram na colonoscopia são comuns a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn. Isso daí não é exatamente nenhuma novidade. Para tentar sanar a dúvida, ele passou uma enterografia por ressonância magnética. Se alguma parte do meu intestino delgado estiver inflamada, é certeza que é Crohn. Se não, continuo no limbo.

Vou começar uma bateria de exames laboratoriais. Como ele pretende usar um imunossupressor, temos de nos certificar que não tenho nenhuma infecção. Esse tipo de medicação baixa as defesas. Então é muito importante que eu realmente esteja sem infecção alguma. Para isso farei exames tipo raio X do tórax para procurar alguma coisa relacionada a pneumonia ou a tuberculose, por exemplo. Vamos procurar por doenças como hepatite também. A questão da tuberculose foi engraçada. Porque ele deve ter percebido que fiz cara de confusa quando ele falou sobre isso. Eu não tenho tosse ou qualquer outro sintoma. Faz semanas que nem a rinite se manifesta. E quando se manifesta, extrato de própolis resolve. Mas, ele disse que eu posso ter entrado em contato com a bactéria em algum momento da vida e não ter desenvolvido a doença. Até saber se um dia eu já tive contato com certas bactérias é importante. Acreditem: tem exames laboratoriais que procuram por isso. Os exames laboratoriais também vão incluir aqueles que todo médico gosta de passar como hemograma e fezes. Sinto que vão ter que tirar litros do meu sangue para tantas análises.

Outra coisa: Vou ter de atualizar TODA a minha careteira de vacinação e mais. Vou ter de tomar vacina para o tipo mais comum de pneumonia, HPV e a da gripe. A da gripe tem de ser tomada anualmente. Como estou tomando corticoide, ele reduz o efeitos das vacinas. Mas, mesmo assim, antes de começar a medicação nova tenho de tomá-las todas. Depois, faremos um reforço.

Eu estou decepcionada. Queria que o Mesacol tivesse funcionado. Dr. Gastro Especialista já disse que pretende entrar com Remicade e Azatioprina. Não dá certeza porque a decisão dele vai depender do resultado de todos os exames. Eu sou meio iludida. Porque desejei que a medicação diminuísse. O que é muita esquizofrenia da minha parte. Se eu tenho crises regulares mesmo seguindo todas as orientações que me foram dadas até agora, como o meu corpo iria começar a reagir bem com menos? Eu sei que é irracional. Mas, eu quis que a medicação diminuísse e, assim, eu melhorasse. Tenho horror/pavor/ pânico ao corticoide. Estou tomando porque não posso cortá-lo assim de uma vez. Mas, ODEIO  tomá-lo. Tudo que queria era me livrar dele. E, pelo visto, vou conseguir. Mas, mesmo assim, estou triste. Porque eu não queria tomar medicações mais pesadas (falo mais pesadas que o Mesacol. No quesito efeitos colaterais, não tem nada mais pesado do que o corticoide). Eu simplesmente queria que o meu corpo reagisse bem. Queria nem ter essa doença maldita.

A minha doença é agressiva. Seja lá qual for. Isso fica evidente já na primeira colonoscopia. Eu também tenho perda crônica de sangue, mas não estou exatamente anêmica. Os tratamentos para repor sangue agora são inviáveis porque trariam efeitos colaterais muito ruins. E, quanto a isso, estou bem. Então dá para esperar o novo tratamento começar antes de começar a tratar os detalhes.

Estou com medo porque o remicade é uma medicação intravenosa. As vacinas da alergia já me bastaram. Realmente não gosto de tomar injeção. Vou atualizar a carteira de vacinação com todo o desgosto que alguém poderia sentir ao fazer isso. Tem vacina importante que eu nunca tomei. Por exemplo, a antitetânica.  Vou ter de tomar. Vacinas que se tomam uma a cada num sei quantos anos já me desagradavam. Imagine tomar medicação intravenosa regularmente??? Eu DETESTEI essa ideia. Pior é que até isso pode não funcionar. Tem de esperar para ver como o corpo reage e blá blá blá.

Não aguento mais esperar esse corpo sem noção reagir. Eu quero sucesso. Eu quero não entrar mais em crise. É muito ruim chegar com cara de fracassada para a família, namorado, psicologo, amigos e dar a notícia: entrei em crise de novo. Eu realmente odeio isso. Eu gosto de responder que estou bem. Que meu corpo tá ótimo. Que não tenho apresentado sintomas. Que finalmente o tratamento tá funcionando. Eu quero chegar para alguém e dizer “Faz uns dois anos que não tenho mais sintomas dessa doença.” Quando isso vai acontecer? Daqui há mais ou menos uns dois anos seria bom, né?!

Malditas incontroláveis doenças genéticas!!!

É fácil demais aceitar essa doença quando estou bem. Em crise, as coisas mudam de figura. Não consigo.

O médico especialista fez algo muito legal por mim. Me passou os números de telefone e e-mail para que eu possa ligar ou escrever sempre que tiver alguma dúvida. Achei muito gentil da parte dele.

Talvez, este post não esteja tão feliz porque o meu dia não foi muito bom. Descobri hoje que, pelo menos, duas questões do teste que fiz estão erradas. Uma por causa de uma bobagem. Como a turma tem mais de 150 alunos, as provas são objetivas e os cálculos desconsiderados. Como eu errei apenas o finalzinho de uma dessas questões, isso me deixou muito frustrada. Por causa de uma idiotice – coisa que sabia – perdi dois pontos de cara. Para piorar a situação, a minha colação de grau em letras vai cair no mesmo dia do terceiro teste de Matemática. De acordo com o novo regulamento da graduação da UFRN, eu não posso fazê-lo antes ou depois da data prevista. Ou seja, ficarei com zero. Essa disciplina é pré-requisito para cálculo II. Se eu não passar nela, vou atrasar todo o meu curso.

Tem dias que são mais pesados que os outros. Esse com certeza não foi o meu dia. Escutei um monte de coisa que não queria ouvir. Vim para cá porque escrever faz com que que me sinta melhor. É quase um padrão: começo com raiva,  no meio do texto me deprimo e, no fim, já estou conseguindo refletir um pouco e me sinto mais leve.

Espero que as coisas deem certo. Diante de todas as hipóteses, eu ainda prefiro ficar no limbo. Porque acho que ter Crohn é pior do que ter Retocolite. Dos males, quero ter a possibilidade do menor. Tem coisa que a gente não pode escolher. Mas, o fato da gente não poder escolher não quer dizer que a gente não escolha mentalmente. Eu sempre escolho. Eu não gosto de criança. Quem me conhece sabe. Não tenho jeito e fico sem graça na presença delas. Quando as pessoas perguntam as mulheres grávidas qual o sexo que ela gostaria que o feto tivesse, muitas respondem “O importante é nascer com saúde.” Como se fosse quase um pecado ter uma preferência. Mentalmente, eu escolho. Sempre escolho. O tempo todo a minha imaginação me joga em situações improváveis em que faço escolhas. Coisa de quem lê, quem gosta de história. A gente se coloca no lugar de pessoas, personagens… Pois bem… Se fosse eu gravida – isso seria uma tragédia – mas, do males: o menor. Eu preferiria uma menina. Eu escolho ter retocolite. Se for Crohn, continuarei vivendo. Ou melhor, Crohnvivendo! Mas, ficarei decepcionada.

Uma resposta to “Sobre os novos exames…”

  1. Valquíria Damasceno julho 24, 2017 às 00:09 #

    Impressionante como esclareceu muito sobre as medicações e efeitos colaterais na prática sim, porque as bulas são frias! Tenho fibrose pulmonar tomo cortiço idéia preciso na também estou em processo de desmame e tomo Azatioprina Beijos

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